Um broche de strass
Comprar roupas em lojas de departamento é muito confortável. As peças ficam expostas em seções específicas. Podemos procurar livremente o que precisamos, sem vendedores sorridentes se oferecendo para ajudar. Sei que é o papel deles, mas definitivamente não nos deixam à vontade. Na ocasião, procurava um vestido. Depois de muito pesquisar achei o que imaginei ser perfeito para a situação: um vestido branco, godê, de crepe de seda, forrado. Enriquecia a peça um lindo broche de strass, em formato de anel e que circulava uma das alças do vestido. Era só um detalhe, mas o detalhe!
Encontrado o modelito, passei para a segunda etapa: checar etiquetas com preço e numeração. O preço era bem razoável, mas a peça era manequim 38. Precisava de um 40. Não tive dúvida que encontraria. Havia uma arara grande com aproximadamente trinta vestidos. Achei vários com a minha numeração, mas somente aquele que vi primeiro ainda trazia o broche de strass. Que triste! Como o broche estava sem lacre, apenas enroscado em uma das alças, muitos surrupiaram discretamente o enfeite e levaram como presente de natal.
Foi aí que lembrei das verdades reveladas em um texto que li, de João Ubaldo Ribeiro. Nele o escritor fazia um desabafo: está faltando matéria prima para construirmos um país de verdade. Ele dizia pertencer a “um país onde as empresas privadas são papelarias particulares de seus empregados desonestos que levam para casa folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para o trabalho escolar de seus filhos ou para eles mesmos”.
Regidos por um código onde a esperteza é a moeda oficial, seguimos lesados. Poderia ter apanhado o modelo 38 e um 40 e solicitado a um colaborador que fizesse honestamente a transferência do enfeite, mas o tal vestido já me parecia caído e o broche perdera o brilho.
Marta Aparecida Pereira da Rocha Costa